27.11.05

Itatiaiuçu me prende a atenção.

Talvez seja a parte mais bonita da viagem de alguém para São Paulo. E, com certeza, é a mais perigosa. A Serra de Itatiauçu, ao mesmo tempo que encanta, engole seus passantes mais desavisados. Principalmente aqueles que ficam a admirar a rocha principal e se esquecem de que estão guiando um carro.

Sempre que pego a BR-381 sentido Sampa, alguma coisa naquela serra me chama a atenção. Talvez a sinuosidade proposital da estrada para evitar aclives muito acentuados. Talvez a mineradora que lá se instalou para buscar a matéria-prima do nosso dia-a-dia, o minério. Só sei que, ao começar a subida, a pedra principal, aquela, mais alta, parece me encarar. E sinto um tom de desafio quando ela faz isso comigo. À medida que me aproximo da rocha, à medida que a altitude aumenta... O encaramento aumenta. A emoção sobe à flor da pele. A ascensão contínua daquela viagem, ao se chegar no "pico"... São tudo momentos somados da expectativa de se transpassar tal obstáculo, tal "muralha natural". Uma muralha que já derrubou vidas, e quase sou mais uma vítima dela, mas isso em tempos passados.

Se em todas as minhas viagens por essa Minas apenas senti tal encantamento por Itatiaiuçu, não sei como explicar a mágica do efeito dessa montanha. Se eu gosto de ir visitar meus primos, meus tios por causa do morro, sei lá se isso è vero. Acabo de perceber, em mais uma viagem pela Fernão Dias, que aquilo que mais me causa medo e pavor também me encanta.


Nem tão longe que eu não possa ver
Nem tão perto que eu possa tocar
Nem tão longe que eu não possa crer que um dia chego lá
Nem tão perto que eu possa acreditar que o dia já chegou

Se eu pudesse, ao menos
Te contar o que se enxerga lá do alto
Com céu aberto, limpo e claro ou com os olhos fechados
Se eu pudesse, ao menos, te levar comigo lá

Pro alto da montanha, num arranha-céu
Pro alto da montanha, num arranha-céu
Sem final feliz ou infeliz...atores sem papel
No alto da montanha, à toa, ao léu

Nem tão longe, impossível
Nem tampouco lá... já

No alto da montanha, num arranha-céu
No alto da montanha, num arranha-céu
Sem final feliz ou infeliz...atores sem papel
No alto da montanha, num arranha-céu
(Engenheiros do Hawaii, A montanha)
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Apenas um post de cunho poético, talvez reflexivo, mas muito pessoal.

20.11.05

Dia de quê, mesmo? Hein?

texto postado também na Tribuna do Juarez; aqui, mais denso.




"Na minha cidade 21 de abril é feriado
e 20 de novembro mau é lembrado"

Essa pequena estrofe da música Black Broder, do grupo Berimbrown, formado em BH, representa a quantas anda o reconhecimento da identidade da pele negra no Brasil. Vinte de novembro, uma data que era para ser celebrada com pompa, com circunstância, com tudo a que o preto tem direito. E a pergunta é: tem algo para se comemorar?

Os negros são a maior fatia das favelas brasileiras. São os mais retaliados quanto à questão sócio-econômica. Opção de escolha? Exercício de auto-piedade? Não, conseqüências, decorrentes de um ato, ou de vários atos, praticados na época da nossa colonização. E após esta. A Princesa Isabel, em treze de maio de 1888, veio garantir a liberdade aos povos negros do país. Simplesmente, alforria: agora, o negro libertara-se dos grilhões, dos ferros que o aprisionavam.

Sim, o negro se tornou livre. Mas para quê? Não se fez uma política de "absorção" do afro-descendente na sociedade urbana/rural do Brasil. Ao negro, relegaram-lhe algo que vejo como fundamental: a dignidade. O grilhão, o ferro, apenas mudou de nome. Passou a se chamar "racismo".

Sem dignidade, o negro não consegue se impor socialmente. Isso é um fato que se pode considerar para a assertiva: "são poucos os negros que atingem um alto status na sociedade". E isso ocorre não porque o negro é burro, ignorante de sua existência ou inapto para as funções que são delegadas a ele. Exceto os jogadores de futebol (na sua maioria negros, mulatos ou pardos), é impressionante como a presença do homem preto diminui à medida que se ascende na pirâmide social. E tudo são reflexos da política segregacionista do colonizador europeu, que se usou do negro como mão-de-obra bruta, sem lhe valorizar o social, sua cultura, sem dar merecimento às suas raízes.

Ainda que não sejam explícitas, a discriminação ao elemento preto ainda é recorrente. Somente não enxergam isso aqueles pretos Pai Tomás, adeptos de uma visão deturpada da realidade, na qual "tudo são flores" e não existe "racismo". Estamos agregados, mesmo que inconscientemente, de valores discriminatórios dos colonizadores: é a repugnância direta ou indireta a um preto que se senta do seu lado no ônibus; é o estereótipo de que preto no jornal aparece somente na editoria de polícia, entre outros. Até a religião mostrou-se adepta de um certo apartheid: o próprio Cristianismo que nos foi deixado tem marcas "racistas" subliminares. É o maniqueísmo do claro/escuro. Pode ser um delírio, mas observe: tudo, na Bíblia que chegou aos nossos tempos, tem esse aspecto de Maniqueu. O claro, o limpo, o iluminado. O escuro, as trevas, o sujo. E, apesar de ter-se originado em um local cujas pessoas possuem peles mais escuras – o Oriente Médio –, o Cristianismo tornou-se uma religião do "homem branco".

Enfim, chega o 20 de novembro. Dia de quê, mesmo? Da Consciência Negra. Um dia necessário não para que o negro se torne cônscio de si, porque já é, mas que serve – ou pelo menos se deseja que sirva – para que todos nós, independentemente da cor da pele, possamos ver o negro como identidade e um elemento da sociedade. Afinal de contas, reconheçamos: preto é só uma cor... Que a representatividade da data supere o seu simbolismo, e que possa agir nas entranhas da sociedade.
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Que nós, brasileiros, possamos nos unir um pouco mais e ver ao outro não mais como concorrente, mas como um irmão.

Que possamos deixar de lado as mágoas que se ressentiram no passado. Vamos olhar para a frente!

15.11.05

Let's have a break here...

Gostaria de pedir licença a um autor que gosto muito. Hoje (tudo bem que eu deveria ter feito isso em Finados...), vou deixar um texto de Augusto dos Anjos, sobre a prática da arte.
Abraços!


O Martírio do Artista

Arte ingrata! E conquanto, em desalento,
A órbita elipsoidal dos olhos lhe arda,
Busca exteriorizar o pensamento
Que em suas frontais células guarda!

Tarda-lhe a Idéia! A inspiração lhe tarda!
E ei-lo a tremer, rasga o papel, violento,
Como o soldado que rasgou a farda
No desespero do último momento!

Tenta chorar e os olhos sente enxutos!...
É como o paralítico que, à míngua
Da própria voz e na que ardente o lavra

Febre de em vão falar, com os dedos brutos
Para falar, puxa e repuxa a língua,
E não lhe vem à boca uma palavra...

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"E não lhe vem à boca uma palavra..." Existe coisa mais certa que a incerteza de se conseguir falar o que se sente?

13.11.05

Dois gumes, uma faca.

Estamos vivendo uma era um tanto quanto esquisita na Casa Verde. Digo eu esquisita porque nunca pensei que algumas coisas poderiam chegar a um extremo.

Tudo começou - eu acho - com uma singela brincadeira por parte de alguns dos nossos colegas. A proposta de se criar um veículo noticioso, o agora famoso Zulato, deu o que falar na sala. Por três fatores que considero muito relevantes.

Primeiro: o e-zine é um veículo cujo objetivo é divulgar as principais fofocas da turma. Pare por aí. Qualquer mídia que se intromete a se meter na vida alheia tem a tendência de se tornar algo um pouco sensacionalista. Sim, convenhamos nós: não é nada agradável você sair em um veículo cunhado de popular(esco) de uma forma vexatória.

Segundo: o e-zine se considera rival da Tribuna do Juarez. Para que tal facciosismo? Para que tal parcialidade de se julgar "concorrente"? Não vejo necessidade nenhuma de se rivalizar com os companheiros da sala por causa de ambas as publicações.

Terceiro, e não menos importante: existe o momento anterior ao Zulato e outro posterior. Não nego que tal e-zine trouxe uma nova visão aos fatos que ocorrem na Casa Verde. No entanto, tal visão agrdiu certos elementos e ocasionaram um segregacionismo desnecessário. Sim, infelizmente notei uma "ligeira" separação dentro da turma por causa de tal fato.

E queria tanto que, na vida, tais fatos nunca tivessem ocorrido. Nem os ciúmes por causa da Tribuna nem a separação que o zine andou causando.

Oh, yes, let's go back to the past.
Let's gonna be friends again...

4.11.05

Com tais manifestações nos comentários do post anterior, não pude ficar calado.

Sei que passei por várias barras, várias dificuldades, e que há pessoas que compreendem o que sinto. Sim, eu sei que preciso de ajuda. Mas tudo isso tende a começar em mim; nunca sozinho.

Apesar de ter em mente tal sentimento radical de "querer mudar", estou ainda abalado com experiências anteriores. Talvez uma terapia seja o ideal, mas que ela seja feita na própria CV.

Obrigado, Lalá, por me entender; você sabe claramente o que pretendi dizer. Sentimento de exílio incomodam a mim desde tempos remotos, não é de hoje. Cogitei várias vezes em passar por psicólogos mas... Cadê tempo, disposição e... coragem para me admitir necessitado duma? Bem como tu me disseste, pr'eu começar a mi amar. Falta, antes de tudo, amor-próprio, coisa que só fui adquirindo recentemente (para ser sincero, há uns três anos). É tudo um processo gradual... Lento.

No mais, ao retornar às postagens regulares, queria poder transmitir step by step a repercussão da minha mudança interior. A começar em mim, bem sei... Mas nunca consegui pôr em prática.

1.11.05

Taquicardia.

Será esse o nome certo do que neste momento sinto ao escrever este post? Coração acelerado, vontade de levantar e sair correndo, ou mesmo esmurrar a parede. Não, é raiva, mesmo.
Sinto raiva quando me sinto deslocado no ambiente que vivo. Nunca gostei de me sentir um outcast, e esse é meu maior trauma da vida. Tento entranhar no meio que me cerca, tento fazer com que eu seja, ao menos, lembrado (nem notado fisicamente). Eu fico com grande mágoa interior, já que parece que eu não mereço ser notado muito menos mencionado. Passei anos sofrendo com isso, eu disse ANOS! E, quando eu sinto que não serei mais um ser fora de órbita.... Não é que me lançam num foguete para Marte??? Júpiter??? Saturno???
Queria poder me sentir renovado, um outro alguém, que possa se sentir útil. Mas mais me pareço com um estranho no ninho, um filho de pardal em meio a gaivotas...
Enfim, não vai ser por causa disso que vou cortar meus pulsos. Apenas quis desabafar aquilo que me machucava, e ainda me machuca. Acredito que isso ocorre com muitas pessoas alheias a tudo e a todos... Nesse primeiro dia de novembro, tento prometer para mim mesmo que não me tornarei um jovem depressivo e depreciativo. Tentarei, ainda que circunstâncias externas a mim me façam regredir a um espírito mental pueril. E, sendo assim, dá vontade de chorar...
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P.S.: Se alguém puder e quiser me ouvir, agradeço.