Dia de quê, mesmo? Hein?
texto postado também na Tribuna do Juarez; aqui, mais denso.
"Na minha cidade 21 de abril é feriado
e 20 de novembro mau é lembrado"
Essa pequena estrofe da música Black Broder, do grupo Berimbrown, formado em BH, representa a quantas anda o reconhecimento da identidade da pele negra no Brasil. Vinte de novembro, uma data que era para ser celebrada com pompa, com circunstância, com tudo a que o preto tem direito. E a pergunta é: tem algo para se comemorar?
Os negros são a maior fatia das favelas brasileiras. São os mais retaliados quanto à questão sócio-econômica. Opção de escolha? Exercício de auto-piedade? Não, conseqüências, decorrentes de um ato, ou de vários atos, praticados na época da nossa colonização. E após esta. A Princesa Isabel, em treze de maio de 1888, veio garantir a liberdade aos povos negros do país. Simplesmente, alforria: agora, o negro libertara-se dos grilhões, dos ferros que o aprisionavam.
Sim, o negro se tornou livre. Mas para quê? Não se fez uma política de "absorção" do afro-descendente na sociedade urbana/rural do Brasil. Ao negro, relegaram-lhe algo que vejo como fundamental: a dignidade. O grilhão, o ferro, apenas mudou de nome. Passou a se chamar "racismo".
Sem dignidade, o negro não consegue se impor socialmente. Isso é um fato que se pode considerar para a assertiva: "são poucos os negros que atingem um alto status na sociedade". E isso ocorre não porque o negro é burro, ignorante de sua existência ou inapto para as funções que são delegadas a ele. Exceto os jogadores de futebol (na sua maioria negros, mulatos ou pardos), é impressionante como a presença do homem preto diminui à medida que se ascende na pirâmide social. E tudo são reflexos da política segregacionista do colonizador europeu, que se usou do negro como mão-de-obra bruta, sem lhe valorizar o social, sua cultura, sem dar merecimento às suas raízes.
Ainda que não sejam explícitas, a discriminação ao elemento preto ainda é recorrente. Somente não enxergam isso aqueles pretos Pai Tomás, adeptos de uma visão deturpada da realidade, na qual "tudo são flores" e não existe "racismo". Estamos agregados, mesmo que inconscientemente, de valores discriminatórios dos colonizadores: é a repugnância direta ou indireta a um preto que se senta do seu lado no ônibus; é o estereótipo de que preto no jornal aparece somente na editoria de polícia, entre outros. Até a religião mostrou-se adepta de um certo apartheid: o próprio Cristianismo que nos foi deixado tem marcas "racistas" subliminares. É o maniqueísmo do claro/escuro. Pode ser um delírio, mas observe: tudo, na Bíblia que chegou aos nossos tempos, tem esse aspecto de Maniqueu. O claro, o limpo, o iluminado. O escuro, as trevas, o sujo. E, apesar de ter-se originado em um local cujas pessoas possuem peles mais escuras – o Oriente Médio –, o Cristianismo tornou-se uma religião do "homem branco".
Enfim, chega o 20 de novembro. Dia de quê, mesmo? Da Consciência Negra. Um dia necessário não para que o negro se torne cônscio de si, porque já é, mas que serve – ou pelo menos se deseja que sirva – para que todos nós, independentemente da cor da pele, possamos ver o negro como identidade e um elemento da sociedade. Afinal de contas, reconheçamos: preto é só uma cor... Que a representatividade da data supere o seu simbolismo, e que possa agir nas entranhas da sociedade.
____________________________________________________________________________________
e 20 de novembro mau é lembrado"
Essa pequena estrofe da música Black Broder, do grupo Berimbrown, formado em BH, representa a quantas anda o reconhecimento da identidade da pele negra no Brasil. Vinte de novembro, uma data que era para ser celebrada com pompa, com circunstância, com tudo a que o preto tem direito. E a pergunta é: tem algo para se comemorar?
Os negros são a maior fatia das favelas brasileiras. São os mais retaliados quanto à questão sócio-econômica. Opção de escolha? Exercício de auto-piedade? Não, conseqüências, decorrentes de um ato, ou de vários atos, praticados na época da nossa colonização. E após esta. A Princesa Isabel, em treze de maio de 1888, veio garantir a liberdade aos povos negros do país. Simplesmente, alforria: agora, o negro libertara-se dos grilhões, dos ferros que o aprisionavam.
Sim, o negro se tornou livre. Mas para quê? Não se fez uma política de "absorção" do afro-descendente na sociedade urbana/rural do Brasil. Ao negro, relegaram-lhe algo que vejo como fundamental: a dignidade. O grilhão, o ferro, apenas mudou de nome. Passou a se chamar "racismo".
Sem dignidade, o negro não consegue se impor socialmente. Isso é um fato que se pode considerar para a assertiva: "são poucos os negros que atingem um alto status na sociedade". E isso ocorre não porque o negro é burro, ignorante de sua existência ou inapto para as funções que são delegadas a ele. Exceto os jogadores de futebol (na sua maioria negros, mulatos ou pardos), é impressionante como a presença do homem preto diminui à medida que se ascende na pirâmide social. E tudo são reflexos da política segregacionista do colonizador europeu, que se usou do negro como mão-de-obra bruta, sem lhe valorizar o social, sua cultura, sem dar merecimento às suas raízes.
Ainda que não sejam explícitas, a discriminação ao elemento preto ainda é recorrente. Somente não enxergam isso aqueles pretos Pai Tomás, adeptos de uma visão deturpada da realidade, na qual "tudo são flores" e não existe "racismo". Estamos agregados, mesmo que inconscientemente, de valores discriminatórios dos colonizadores: é a repugnância direta ou indireta a um preto que se senta do seu lado no ônibus; é o estereótipo de que preto no jornal aparece somente na editoria de polícia, entre outros. Até a religião mostrou-se adepta de um certo apartheid: o próprio Cristianismo que nos foi deixado tem marcas "racistas" subliminares. É o maniqueísmo do claro/escuro. Pode ser um delírio, mas observe: tudo, na Bíblia que chegou aos nossos tempos, tem esse aspecto de Maniqueu. O claro, o limpo, o iluminado. O escuro, as trevas, o sujo. E, apesar de ter-se originado em um local cujas pessoas possuem peles mais escuras – o Oriente Médio –, o Cristianismo tornou-se uma religião do "homem branco".
Enfim, chega o 20 de novembro. Dia de quê, mesmo? Da Consciência Negra. Um dia necessário não para que o negro se torne cônscio de si, porque já é, mas que serve – ou pelo menos se deseja que sirva – para que todos nós, independentemente da cor da pele, possamos ver o negro como identidade e um elemento da sociedade. Afinal de contas, reconheçamos: preto é só uma cor... Que a representatividade da data supere o seu simbolismo, e que possa agir nas entranhas da sociedade.
____________________________________________________________________________________
Que nós, brasileiros, possamos nos unir um pouco mais e ver ao outro não mais como concorrente, mas como um irmão.
Que possamos deixar de lado as mágoas que se ressentiram no passado. Vamos olhar para a frente!
0 Comments:
Postar um comentário
<< Home